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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Desculpas ou qualquer coisa .


Pr. Thomas Tronco

Uma das coisas que mais me chateiam é ver alguém pedir perdão assim, por um erro que cometeu: “Se de algum modo eu te ofendi, então me desculpe!”. Apesar de ter uma aparência superficial de piedade, o fato é que a maioria das pessoas que lança mão desse expediente não está se desculpando por nada. Basta ver como a palavrinha “se” age na frase. Ela transmite a ideia de que, apesar do falso penitente não conseguir enxergar o erro que o outro viu e acusou, para o bem da paz ele pede perdão mesmo sem ver o erro. O resultado final é uma de duas coisas: ou ele não está pedindo perdão por nada, ou está pedindo perdão porque o outro não consegue ter uma compreensão clara dos fatos. Eu chamo esse falso pedido de perdão de “desculpa qualquer coisa” — frase dita popularmente.O rei Davi faz algo parecido no Salmo 19. Ele diz: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas” (Sl 19.12). Será que Davi lançou mão do “desculpa qualquer coisa” com Deus? A resposta é não! O Salmo 19 é um discurso sobre a revelação da grandeza e da santidade do Senhor tanto pela natureza (vv.1-6) como pelas Escrituras (vv.7-10). Diante disso, o salmista pede para ser admoestado com aBíblia por causa das suas falhas (v.11) e clama que ele não sofra influência da soberba (v.13) e até daqueles males sutis, suas transgressões ocultas, às quais ele quer também abandonar e se ver perdoado e purificado pelo Senhor (v.12). Esse foi um pedido verdadeiro de perdão. De fato, essas transgressões ocultas, que muitas vezes passavam despercebidas, eram previstas na lei mosaica e havia um tipo de sacrifício para a purificação desses pecados cometidos na ignorância: “E do rebanho trará ao sacerdote um carneiro sem defeito, conforme a tua avaliação, para oferta pela culpa, e o sacerdote, por ela, fará expiação no tocante ao erro que, por ignorância, cometeu, e lhe será perdoado” (Lv 5.18).Isso nos chama a atenção para alguns fatos ligados à nossa condição de pecadores. O primeiro deles é que é possível cometer um pecado sem se dar conta disso. O que não é possível é se esquecer que somos pecadores e, por isso, pecamos. Normalmente, quem usa muito o “desculpa qualquer coisa” se esquece disso. É como se nunca notasse suas falhas. Uma repreensão a gente assim dificilmente resulta em arrependimento e correção. Geralmente, tais pessoas se sentem ofendidas e até injustiçadas simplesmente por que criam a ideia de que elas não erram, ou, se erram, esses erros são irrelevantes e secundários. Mas não era assim que o rei Davi se via. Mesmo que tenha pedido perdão por faltas ocultas, ele sabia bem quem ele era: “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3). Assim, ao ser repreendido pelo profeta Natan pelo pecado descrito no título do Salmo 51  o adultério com Bate-Seba , ele não usou de subterfúgios, mas se arrependeu, pediu perdão e buscou restauração verdadeira (Sl 51.4,9,10). Nada disso era mera aparência externa, mas algo que vinha do fundo do seu coração (Sl 51.17).O segundo fato ligado ao conhecimento de que pecamos mais do que percebemos é que devemos ser zelosos com a santidade. Isso significa, em primeiro lugar, que não podemos brincar de ser servos de Deus. A vida cristã é uma batalha dura contra o mal e o mundanismo está tão difundido que podemos pecar contra Deus sem que nossa consciência nos acuse. Logo, precisamos conhecer cada vez mais a Palavra de Deus e nos aproximar de modo crescente do Senhor a fim de desenvolvermos uma consciência mais sensível ao mal e com maior aversão contra o pecado. Em segundo lugar, não podemos brincar com as tentações que não são ocultas, acreditando que temos controle sobre nossa carne e podemos repelir o mal mesmo passeando todos os dias no meio dele. Precisamos fugir de tudo que nos convida ao mundo e que nos afasta da comunhão do nosso salvador, sabendo que nossos corações não são fortes como pensamos (Jr 17.9), nem somos tão confiáveis como gostaríamos (Jr 17.5).O último fato é que dependemos inteiramente da graça de Deus. Essa dependência não se dá apenas na salvação que é operada por Deus (At 13.48 cf. 16.14). Dependemos do Senhor também para termos uma vida santa. Isso, obviamente, não significa que não é responsabilidade nossa lutar contra a carne e contra os impulsos de voltar para o mundo. Ao contrário, somos instruídos a desenvolver em nós tudo que Deus ensinou, pelo que Paulo ordena aos filipenses: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12). Porém, imediatamente ele atrela essa luta à dependência do Senhor, dizendo: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). É claro que tal visão não faz bem ao nosso ego, mas nos coloca de joelhos diante de Deus, orando diariamente pela santificação da vida, e com as mãos para o alto, aclamando aquele que merece o louvor que nós não merecemos.Sendo assim, que nosso pedido de perdão a Deus seja diferente. Digamos: “Senhor, desculpa qualquer coisaque eu tenha feito sabendo que é mal ou não, pois todas elas são pecado e eu sei que sou pecador. E quequalquer coisa contrária à sua vontade deixe de ser ocasião de paz para minha alma. Dá-me sensibilidade e conhecimento da tua Palavra para que eu faça qualquer coisa necessária para ser um bom servo. Amém!”.Pr. Thomas Tronco

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